SmartNIC ou DPU: quem protege melhor seu datacenter?

Por Eletropédia

7 de outubro de 2025

O avanço dos data centers modernos trouxe novos paradigmas para segurança e desempenho de rede. À medida que cargas de trabalho crescem em volume e complexidade, o processamento de pacotes e a criptografia consomem cada vez mais recursos da CPU. Nesse contexto, surgem duas soluções de aceleração e offload: as SmartNICs (Smart Network Interface Cards) e as DPUs (Data Processing Units).

Ambas prometem descarregar tarefas de rede, segurança e armazenamento, liberando o processador principal e reduzindo a latência. Contudo, a diferença entre elas vai além do hardware. Trata-se de uma questão arquitetônica: enquanto as SmartNICs aprimoram a interface de rede, as DPUs assumem papel quase autônomo, com núcleos dedicados para funções de segurança, inspeção e roteamento.

O debate sobre qual tecnologia entrega melhor proteção está diretamente ligado à eficiência de camadas defensivas, como uma proteção multi-camada L3 L4 L7, que depende da capacidade de filtrar e inspecionar tráfego sem comprometer desempenho.

 

Offload de segurança e inspeção em hardware

As SmartNICs foram projetadas para reduzir a carga do host ao processar funções de rede diretamente no adaptador. Com suporte a filas SR-IOV (Single Root I/O Virtualization) e recursos de aceleração de criptografia, elas executam parte da inspeção L3 e L4 sem intervenção da CPU. Isso melhora o throughput e reduz o jitter em fluxos de alto volume.

Já as DPUs vão além: incluem processadores ARM, controladores independentes e, em muitos casos, sistemas operacionais embarcados. Essa arquitetura permite descarregar funções completas de virtualização, firewall e roteamento, atuando como microgateways dentro do datacenter.

Em ambientes distribuídos, essas soluções se integram a sistemas de mitigação via BGP Flowspec, aplicando políticas de bloqueio diretamente no plano de dados e reduzindo o impacto de ataques volumétricos ou comportamentais.

 

Integração com a rede e controle granular

O ganho de eficiência das SmartNICs e DPUs depende da integração com a rede e do controle de tráfego em camadas. DPUs oferecem maior autonomia, mas exigem configuração e orquestração mais sofisticadas. SmartNICs, por sua vez, mantêm dependência do sistema operacional hospedeiro, o que simplifica a implementação inicial.

Em ambientes de nuvem privada, a capacidade de distribuir regras de roteamento e filtragem é crítica. Arquiteturas que utilizam BGP transit permitem orquestrar políticas de tráfego dinâmicas entre hosts, data centers e backbones, garantindo resposta rápida a picos ou falhas.

O controle distribuído também ajuda a otimizar o balanceamento de carga e a latência média por fluxo, especialmente em workloads de baixa tolerância a variações de rede.

 

Escalabilidade e segmentação de tráfego

Uma vantagem das DPUs é a possibilidade de segmentar tráfego por workload, criando domínios de isolamento de segurança. Isso reduz a superfície de ataque e facilita a aplicação de políticas de zero trust em nível físico.

Já as SmartNICs se destacam em cenários de alta densidade de VMs, onde o controle de rede precisa ser granular, mas o processamento pode ser compartilhado. Ambas podem ser geridas de forma centralizada, integrando-se a plataformas de observabilidade e automação.

Redes corporativas com autonomia própria, como o AS264409, demonstram como políticas de roteamento inteligente podem ser combinadas com hardware de offload para entregar segurança e desempenho em escala.

 

Latência e custo operacional

A decisão entre SmartNIC e DPU também passa pela análise de custo-benefício. Enquanto DPUs oferecem isolamento e independência total da CPU, seu custo é mais elevado, e o ganho de performance só se justifica em workloads críticos de segurança, virtualização ou alta criptografia.

SmartNICs, por outro lado, oferecem equilíbrio entre custo e desempenho, sendo ideais para clusters que exigem throughput elevado, mas não justificam uma infraestrutura dedicada para controle de rede.

Em ambientes distribuídos, principalmente no contexto multi-cloud América Latina, o custo adicional das DPUs pode ser amortizado pela redução de latência interregional e pela eficiência energética de operações contínuas.

 

Gerenciamento, eBPF e automação

O avanço do eBPF (Extended Berkeley Packet Filter) revolucionou a observabilidade e o controle da rede em nível de kernel. Tanto SmartNICs quanto DPUs podem executar programas eBPF embarcados, aplicando filtros, contadores e regras sem necessidade de intervenção no sistema hospedeiro.

Essa capacidade cria um ambiente de rede programável, onde políticas de segurança e desempenho são aplicadas dinamicamente, com base em métricas de tráfego e comportamento.

Em infraestruturas híbridas, especialmente em cloud híbrida empresarial, o eBPF se torna uma ponte entre hardware e software, permitindo automação e telemetria sem sacrificar desempenho.

 

Conclusão: escolha baseada em propósito

SmartNICs e DPUs não competem, mas se complementam. A escolha depende do perfil de aplicação e das metas de segurança e desempenho. Se o foco está em throughput e eficiência de CPU, SmartNICs são mais indicadas. Já se a prioridade é isolamento, segurança granular e processamento autônomo, DPUs oferecem vantagens decisivas.

O caminho ideal envolve uma combinação dos dois — com offload seletivo, observabilidade integrada e roteamento inteligente. Esse equilíbrio reduz custos, melhora resiliência e eleva o nível de segurança dos data centers modernos.

O futuro dos datacenters não está apenas em mais processamento, mas em processamento mais inteligente — delegando ao hardware o papel de defender e acelerar o que antes era apenas software.

Leia também: